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| September 2013
Diretor da Fundação Ford diz que bancos ameaçam democracia
Léa De Luca
Brasil Econômico, 24 Setembro 2013. © Copyright 2009-2012 Brasil Econômico. Todos os Direitos Reservados.
Para Leonardo Burlamaqui lobby dessas instituições impede o avanço de uma governança financeira global
São Paulo - Cinco anos depois da crise financeira internacional, as coisas mudaram muito pouco no mercado financeiro. Para Leonardo Burlamaqui, diretor da Fundação Ford, e Rogério Silveira, diretor executivo do Minds (Instituto multidisciplinar para desenvolvimento e estratégias, na sigla em inglês), a saída para evitar novas crises seria estabelecer uma governança financeira global. Entre as propostas, estão aumentar a regulação (inclusive de funcionamento dos fundos de "hedge"), adotar o controle de entrada de capitais como uma rotina e acabar com os paraísos fiscais, por exemplo.
Mas a ideia de um novo conjunto de regras para o sistema financeiro global enfrenta dificuldades para avançar e uma das razões, segundo eles, é o forte poder político e econômico das instituições financeiras. "Elas não querem mais regulação. Vivemos uma governança movida pelo lobby dessas instituições. É uma ameaça à democracia", diz Burlamaqui.
Silveira concorda, mas acredita que, ao menos, a crise de 2008 abriu espaço para discussão, apesar das resistências. "Pode não acontecer de forma orgânica e organizada, mas confio que caminharemos sim para mais regulação", diz. Para ele, a defesa da autorregulação das instituições financeiras, somada ao "mantra" de que a desregulamentação seria benéfica e aumentaria a eficiência do mercado, reduzindo custos de intermediação, foi uma combinação desastrosa. "A ideia de que a desregulamentação tornaria mais eficiente a intermediação na transferência de recursos, de quem poupa para os que investem, mostrou-se equivocada com a crise", diz Silveira. Para ele, a falta de leis não aumentou a eficiência, e pior : aumentou a especulação. "Os bancos não vivem só de intermediação. O que dá dinheiro mesmo é a especulação. E como instituições privadas, visam lucrar mais".
Burlamaqui lembra que países como Brasil e China, com forte presença dos bancos públicos no sistema - e também leis mais rígidas - foram os que menos sofreram com a crise. "Não adianta querer eliminar os bancos públicos, como fizeram os Estados Unidos. Os bancos privados não tem apetite para fazer o que eles fazem", diz Silveira. Para ele, é urgente resgatar o que chama de "funcionalidade" dos bancos - financiar o sistema produtivo. "No Brasil, apenas um banco fornece recursos de longo prazo para investimentos, que é o BNDES", completa Burlamaqui.
O diretor da Fundação Ford lembra ainda que até hoje não existe nenhuma entidade global para cuidar da governança financeira. Tanto ele quanto Silveira consideram as regras da terceira fase do acordo de capitais entre bancos, conhecido como Basileia III (cujo objetivo é reforçar o capital das instituições e protegê-las contra crises) são "o mínimo do mínimo necessário". Para ele, o acordo anterior (Basileia II) era "irresponsável, permitia muita margem de manobra". Burlamaqui diz que ao contrário do que defendiam alguns, a globalização financeira foi prejudicial: "Criou-se um cassino em escala global", diz. "Se não for possível estabelecer uma governança financeira global, melhor será promover uma ‘desglobalização' dos mercados", acredita.
Na próxima quinta-feira, no Rio de Janeiro, Burlamaqui e Silveira farão os discursos de abertura de um evento promovido pelo Minds e o Levy Economics Institute, sobre a governança financeira pós-crise. O evento é parte de um programa patrocinado pela Fundação Ford desde 2006.
Para Leonardo Burlamaqui lobby dessas instituições impede o avanço de uma governança financeira global
São Paulo - Cinco anos depois da crise financeira internacional, as coisas mudaram muito pouco no mercado financeiro. Para Leonardo Burlamaqui, diretor da Fundação Ford, e Rogério Silveira, diretor executivo do Minds (Instituto multidisciplinar para desenvolvimento e estratégias, na sigla em inglês), a saída para evitar novas crises seria estabelecer uma governança financeira global. Entre as propostas, estão aumentar a regulação (inclusive de funcionamento dos fundos de "hedge"), adotar o controle de entrada de capitais como uma rotina e acabar com os paraísos fiscais, por exemplo.
Mas a ideia de um novo conjunto de regras para o sistema financeiro global enfrenta dificuldades para avançar e uma das razões, segundo eles, é o forte poder político e econômico das instituições financeiras. "Elas não querem mais regulação. Vivemos uma governança movida pelo lobby dessas instituições. É uma ameaça à democracia", diz Burlamaqui.
Silveira concorda, mas acredita que, ao menos, a crise de 2008 abriu espaço para discussão, apesar das resistências. "Pode não acontecer de forma orgânica e organizada, mas confio que caminharemos sim para mais regulação", diz. Para ele, a defesa da autorregulação das instituições financeiras, somada ao "mantra" de que a desregulamentação seria benéfica e aumentaria a eficiência do mercado, reduzindo custos de intermediação, foi uma combinação desastrosa. "A ideia de que a desregulamentação tornaria mais eficiente a intermediação na transferência de recursos, de quem poupa para os que investem, mostrou-se equivocada com a crise", diz Silveira. Para ele, a falta de leis não aumentou a eficiência, e pior : aumentou a especulação. "Os bancos não vivem só de intermediação. O que dá dinheiro mesmo é a especulação. E como instituições privadas, visam lucrar mais".
Burlamaqui lembra que países como Brasil e China, com forte presença dos bancos públicos no sistema - e também leis mais rígidas - foram os que menos sofreram com a crise. "Não adianta querer eliminar os bancos públicos, como fizeram os Estados Unidos. Os bancos privados não tem apetite para fazer o que eles fazem", diz Silveira. Para ele, é urgente resgatar o que chama de "funcionalidade" dos bancos - financiar o sistema produtivo. "No Brasil, apenas um banco fornece recursos de longo prazo para investimentos, que é o BNDES", completa Burlamaqui.
O diretor da Fundação Ford lembra ainda que até hoje não existe nenhuma entidade global para cuidar da governança financeira. Tanto ele quanto Silveira consideram as regras da terceira fase do acordo de capitais entre bancos, conhecido como Basileia III (cujo objetivo é reforçar o capital das instituições e protegê-las contra crises) são "o mínimo do mínimo necessário". Para ele, o acordo anterior (Basileia II) era "irresponsável, permitia muita margem de manobra". Burlamaqui diz que ao contrário do que defendiam alguns, a globalização financeira foi prejudicial: "Criou-se um cassino em escala global", diz. "Se não for possível estabelecer uma governança financeira global, melhor será promover uma ‘desglobalização' dos mercados", acredita.
Na próxima quinta-feira, no Rio de Janeiro, Burlamaqui e Silveira farão os discursos de abertura de um evento promovido pelo Minds e o Levy Economics Institute, sobre a governança financeira pós-crise. O evento é parte de um programa patrocinado pela Fundação Ford desde 2006.
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