Publications

In the Media | June 2012

Euro : Intransigência Alemã vai Prevalecer

By Dimitri B. Papadimitriou

Valor Econômico, June 22, 12. All rights reserved.

Durou pouco o alívio do mercado financeiro com o resultado da eleição grega de domingo, que resultou na formação de um governo favorável ao pacote de resgate das finanças públicas do país. Não há dúvida de que a crise da dívida prossegue na Europa, atacando diretamente a Espanha—cujos bancos foram resgatados no início do mês—e talvez, em seguida, Itália e Portugal. O euro, moeda comum do continente, não desapareceu no começo da semana, mas ainda está fortemente ameaçado.

O plano de resgate da Grécia não tem condições de funcionar, porque a austeridade que se exige é impossível. Antonis Samaras venceu as eleições com base na promessa de renegociação. O mercado tem a expectativa de soluções de longo prazo na reunião de cúpula da próxima semana, um plano coerente para resolver a crise da dívida. Mas a intransigência alemã vai prevalecer e não virá solução. A resposta dos mercados vai ser ainda mais dura e os líderes da França e da Itália vão pressionar a Alemanha por uma mudança de curso. Isso vai levar muito tempo até se chegar a algum resultado concreto.

O presidente francês François Hollande quer mudar o curso da austeridade e incorporar uma política de crescimento. Estou otimista: com o tempo, acredito que mudanças virão. Mas temo que vão chegar um pouco tarde demais. Os eurobônus são necessários, assim como um fundo garantidor de depósitos que englobe todos os bancos de países da zona do euro. Minha expectativa é de que os problemas incontornáveis do sistema financeiro espanhol e, em seguida, possivelmente, também do italiano, podem ser os catalizadores do estabelecimento de um programa de títulos de dívida europeus.

 

O sistema financeiro europeu é frágil. Só com união fiscal o sistema de pagamentos estará a salvo. É o único jeito de evitar corridas bancárias quando eventuais crises aparecerem. É tempo de que o BCE exerça o papel de um verdadeiro banco central e seja o emprestador de último recurso.

Todas as tentativas de salvar o euro só valem a pena se conseguirmos chegar à união fiscal. Atualmente, o euro é um projeto incompleto e sua dissolução é uma possibilidade concreta. A única solução para o euro é uma união fiscal como a que chamamos de Estados Unidos da América. Se não, temo que o euro esteja em seus estertores.

A Europa jamais deveria ter formado uma união monetária com países de estrutura econômica tão diversa. Para que a Alemanha tenha superávit comercial, os demais países precisam ter déficit. Os desequilíbrios vão continuar, porque uma união só monetária não pode lidar com eles. A Alemanha foi e continua sendo de longe a maior beneficiária do euro, porque conseguiu, graças a um sistema de baixos salários, ser mais produtiva e competitiva. Para a Alemanha, o euro é uma moeda subvalorizada, enquanto para os outros países, é uma moeda sobrevalorizada.

Publication Highlight

Quick Search

Search in: